Programa de Pós-Graduação em

Fisiopatologia Clínica e Experimental

Aspectos farmacológicos de extratos de plantas medicinais: efeitos cardiovasculares e metabólicos

 

Apesar dos avanços da pesquisa científica, o entendimento completo da fisiopatologia da hipertensão, diabetes mellitus (DM) e obesidade levando a abordagens terapêuticas mais eficientes, ainda representa um desafio para a saúde pública. Como resultado, essas três condições representam atualmente grande preocupação de saúde pública, pois estão associadas a incidência elevada de eventos cardiovasculares com alta morbidade e mortalidade. Embora, no tratamento dessas doenças isoladamente ou associadas, a abordagem terapêutica seja bem ampla, a terapia geralmente não é dirigida para uma causa específica.

Por esta razão, tratamentos prolongados com alguns fármacos podem concorrer para o desenvolvimento de uma série de complicações inerentes à própria toxicidade farmacológica. Assim, um dos grandes desafios da farmacologia é oferecer uma terapia eficaz, consistente, de baixa toxicidade e de baixo custo para o paciente.

A grande diversidade vegetal do Brasil pode representar uma fonte natural de fármacos possibilitando a utilização de plantas medicinais como um recurso terapêutico alternativo que vem crescendo junto à comunidade médica. Nesse sentido, ao longo dos últimos anos vimos desenvolvendo pesquisas farmacológicas com extratos de plantas visando não somente os estudos de suas propriedades farmacológicas, mas também o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos ou nutracêuticos.

Dentre as diversas substâncias extraídas de plantas, os polifenóis têm demonstrado grande potencial terapêutico, pois o alto consumo destes compostos reduz a incidência de doenças cardiovasculares. Nossas pesquisas têm comprovado que o extrato hidroalcoólico da casca de uvas (Vittis vivifera L.), rico em polifenóis promove vasodilatação dependente de óxido nítrico (NO), efeito anti-hipertensivo e antioxidante em ratos com hipertensão experimental, efeitos anti- hiperglicemiante e de melhora de perfil lipídico em animais obesos, além de inibir a produção de espécies reativas de oxigênio in vitro.

De maneira semelhante, nosso grupo demonstrou que o extrato hidroalcoólico do caroço da planta Euterpe oleracea Mart. (açaí) apresenta importantes ações farmacológicas, como: vasodilatadora, anti-hipertensiva e antioxidante, anti-hiperglicemiante e redutora dos níveis séricos de colesterol e triglicerídeos, conferindo ao mesmo um grande potencial terapêutico no tratamento de doenças vasculares isquêmicas e cardiometabólicas.

Demonstramos ainda que o extrato reduz o dano oxidativo, em modelo experimental de enfisema pulmonar e melhora a cicatrização de feridas excisionais em ratos diabéticos, provavelmente pelo efeito antioxidante. Nossos estudos indicam que esse extrato obtido do caroço do fruto é rico em catequina e proantocianidinas poliméricas, apresentando conteúdo polifenólico mais expressivo que a polpa, e ainda uma ação vasodilatadora mais potente do que a obtida com o extrato de polpa do fruto. Face ao seu grande emprego como alimento e significativo conteúdo polifenólico, o Açaí tem chamado a atenção dos cientistas e mais ainda das indústrias nacionais e estrangeiras que importam toneladas deste fruto de Belém do Pará para industrialização.

Portanto, nossos achados reforçam as evidências crescentes de que uma dieta rica em polifenóis pode estar envolvida na proteção contra o risco cardiovascular. Nesse sentido, a utilização dos extratos hidroalcoólicos de uvas da espécie Vittis vinifera (ACH 09) e do caroço de açaí (ASE) parece promissora tanto para a prevenção quanto para o tratamento do fenótipo hipertensivo, da obesidade e DM.

Dentro deste contexto, torna-se importante o mapeamento da ação molecular dos mesmos para demonstrar potenciais vias de sinalização moduladas pelos extratos que apresentam um atraente perfil farmacológico sem produzir efeitos adversos.

Dessa forma, utilizando modelos experimentais de hipertensão, diabetes mellitus, obesidade, síndrome metabólica, e envelhecimento visamos ampliar o conhecimento sobre os efeitos do tratamento com ACH09 e ASE, nas alterações cardiovasculares e metabólicas associadas a estas patologias, assim como, os mecanismos celulares, moleculares e neuro-humorais envolvidos.

Para tanto, utilizamos modelos experimentais de hipertensão espontânea e renovascular, de obesidade, como os camundongos C57/BL6 submetidos à dieta hiperlipídica, de DM tipo II induzido em ratos, pela administração de estreptozotocina associada a dieta com alto teor de gordura e o modelo de envelhecimento, utilizando animais com 18 meses de idade. Estudamos também os mecanismos celulares envolvidos no efeito antioxidante e inti-inflamatório do ASE, utilizando células endoteliais em cultura e em pré-adipócitos 3T3-L1.

Nossos estudos pré-clínicos têm possibilitado o depósito de patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), assim como, no exterior (European Patent Office, Munique), concernente ao processo de obtenção e indicações terapêuticas dos extratos.

De posse destas documentações, conseguimos, após um grande esforço de sensibilização de indústrias farmacêuticas, estabelecer uma parceria com o laboratório ACHE-SP, que permitiu a identificação dos compostos fenólicos do extrato da casca da uva (ACH09), assim como, a realização dos testes toxicológicos e o início do teste clínico.

Recentemente, iniciamos uma parceria com a indústria alimentícia brasileira, Power Seed Comércio e Representações LTDA – Belo Horizonte Brasil, visando o desenvolvimento de novos produtos nutracêuticos, tendo como base as experiências pré-clínicas desenvolvidas em nosso laboratório com o extrato ASE. Esta parceria visa o desenvolvimento de um produto obtido do ASE, com atividade antioxidante, vasodilatadora, anti-hipertensiva e redutora do peso corporal já demonstradas.

 

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